Sobre o túmulo do malogrado do meu companheiro
de infância e de estudos, José Ramos de Lima
.Ele ia — caminheiro descuidoso —
Perambulando pela senda fora...
Surgia-lhe no céu a meiga aurora
De um futuro ridente e esperançoso
Uma estrela, na fronte altiva, ereta,
Do talento fora estereotipada...
— Tinha alma sonorosa de poeta...
E mágicos queixumes de balada...
Se à beira dos caminhos escutava
Do passaredo estrídula harmonia
Sua alma cantante então voejava
Aos páramos sutis da poesia.
Se, porém, via o rico e potentado
Esmagar do plebeu a triste sorte,
Rugia-lhe no peito esbraseado
Este grito fatal: “A vingança ou morte”.
Era sua alma um misto delicado...
Tinta rugidos e suavidade...
A doçura do fruto aveludado
O ribombo cruel da tempestade!
Eia seguindo a senda descuidoso...
Olhando aqui o lírio de um Caminho;
Acolá, a rubente flor de um gozo
Mas sempre, sempre o goivo de um espinho.
Mas, de repente junta rígido tufão,
Atira-o pelos céus da imensidade...
Deixando em cada face — uma saudade!
— Uma lágrima em cada coração.
São Paulo, julho de 1891
Publicado em “A Verdade” em 25 de julho de 1891
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